quinta-feira, 6 de abril de 2017

Resenha: Por uma outra globalização.

  • Introdução

Por uma outra globalização, representa um marco histórico e intelectual, com uma leitura de fácil acesso às grandes massas, tem em seu conteúdo uma critica muito profunda e abrangente de todo o sistema hegemônico de globalização, que desmascara toda a farsa ideológica que está em vigor na sociedade dita globalizada, além de nos proporcionar uma análise estrutural da forma como essa ideologia foi implantada no imaginário popular. O mundo como fabulá, como perversidade e como possibilidade representa no livro os conceitos chaves que o autor se utiliza para delinear seu pensamento e estruturar sua obra.
Vou analisar o tema central deste livro com um minucioso cuidado, abordando os temas que estão em pauta no cenário social e político-econômico, dado a importância que esse livro carrega, é do meu maior interesse elaborar uma critica coesa e bem estruturada, e acrescentar minhas opiniões. E assim como autor não me utilizarei de citações copiosas de diversos autores, para me manter fiel a proposta do autor.
O livro traz consigo uma bagagem teórica de décadas de pesquisas e esforços, somados de diversas áreas do conhecimento, e surpreendentemente exibe em suas linhas uma clareza e simplicidade que não é muito comum em livros com esse nível de embasamento teórico. Milton Santos deteve-se em utilizar listagens copiosas de citações, justamente para atingir o publico em geral, assim como tentou Marx com seu manifesto comunista. Mas, mais do que incitar a revolução, nosso autor tentar expor seus pensamentos de uma forma que penetre bem fundo no espírito da sociedade atual, apesar de não carregar os semblantes de uma obra legitimamente acadêmica, com várias citações de diversos autores, nosso exemplar é tão complexo e instrutivo quanto.


O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade
Bem como dito na introdução de nosso trabalho, o autor estrutura seu texto nesses três conceitos, que a meu ver é a chave para compreender a atual globalização.
Vivemos num mundo confuso e confusamente percebido. Muito bem dito pelo autor, há nisso um paradoxo que, sim, pede uma explicação. Diante dos avanços das ciências e das técnicas e seus frutos, diante também da aceleração contemporânea e todas as vertigens que cria, temos aqui dados de um mundo físico fabricado pelo homem que foi construído e moldado pelo homem, que segundo Milton Santos, cuja utilização permite que o mundo se torne confuso e confusamente percebido, onde as explicações mecanicistas se tornam insuficiente.
Já temos aqui dados muito importantes a serem analisados. Vivemos em uma sociedade complexa, produzimos um espaço complexo, não é de se espantar em observar um mundo confusamente percebido, definições mecanicistas como dito pelo autor são insuficientes, mas são ainda utilizadas em larga escala, pois atende um certo tipo de objetivo, que no geral é sempre voltado a uma minoria hegemônica.
O mundo é assim construído por meio de fabulações, que segundo o autor são impostas a todos os espíritos, e se aproveita do alargamento de todos os contextos para consagrar um discurso único. Temos então, um mundo perverso, fundado na informação e com um alicerce na produção de imagens e no imaginário, que Milton Santos diz, se por exclusivamente ao império do dinheiro, fundado este na economização e na monetarização da vida social e da vida pessoal.
Assim o autor estabelece que se quisermos escapar à crença e não quisermos admitir que esse mundo assim apresentado é verdadeiro e a permanência de sua percepção enganosa, devemos admitir a existência de 3 mundos num só. O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalização como fábula; o segundo seria o mundo tal como é: a globalização como perversidade; o terceiro, o mundo como ele pode ser: uma outra globalização.
Para compreendermos esses três conceitos devemos compreender o que é ideologia, segundo (CHAUI, 1980) ideologia são as ideias e representações que tendem a esconder dos homens o real de como suas relações sociais foram produzidas e a origem das formas sociais de exploração econômica e de dominação política. Os homens então legitimam essas condições de exploração social e de dominação, fazendo parecer legitimas e boas. Ai já encontramos o primeiro conceito: a globalização como fábula. Podemos notar aqui a força que as ideias possuem, capazes de criar toda uma concepção de mundo, que tende a mascarar o real, é resultado de séculos de exploração e dominação, assim quanto mais poder essas ideias tiverem dentro das massas mais forte será a dominação sobre as mesmas.
O mundo como ele é: a globalização como perversidade, é justamente nas palavras do autor uma fábrica de perversidade, onde o desemprego se torna cronico, a pobreza aumenta e as classes médias perdem qualidade de vida, o salário médio tende a abaixar, a fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes, alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como o egoísmo, os cinismos, a corrupção.
Aqui um outro grande tema para se abordar, o mundo como ele é, a meu ver o mundo como o criamos, o que deve ser apontado aqui é a forma com que o ser humano tem conduzido sua vida, em busca de falsos ideias, em uma competitividade egoísta, priorizando cada vez a si mesmo, se fechando em círculos e classes sociais, perdendo valores morais como compaixão, amor ao próximo, ética profissional e politica, assim evidenciando cada vez mais a globalização como fabrica de perversidade.
O mundo como ele pode ser: uma outra globalização, é esse ideal voltado para o bem comum do ser humano. Segundo Milton Santos, as mesmas bases técnicas que servem ao grande capital para construir essa fábrica de perversidade, também servirão para outros objetivos, se forem postas a serviço de outro fundamentos sociais e políticos. Assim o autor faz alguns apontamentos que indicam essa possibilidade, como a mistura de raças, povos, culturas, gostos em todos os continentes, outro fator é a população cada vez mais aglomerada em áreas cada vez menores, que permite ainda mais mistura de filosofias.
Outro ponto de análise, é de admitir até quanto isso é possível. Assim como o autor compartilho desse ponto de vista mais otimista, acredito que o ser humano possui valores, como bondade e compaixão intrínseco em sua natureza, que apenas foram mascarados com ideologias baratas, filosofias enganosas e um estilo de vida ligado ao consumo, o “ter” em vez de “ser”. Muitas dessas ideologias se baseiam na triste herança egoísta do homem, esse voltado a pensar somente em si mesmo, produz esse mundo perverso, indo da desde a base até o topo das classes sociais. A alienação do homem sobre si mesmo, resulta nessa medonha fabrica de perversidade. A partir do momento que o ser humano pensar não somente em si mesmo, mas pensar e conhecer a si mesmo, descobrir suas capacidades intelectuais, descobrir suas faculdades cognitivas, apreender a utilizar as ferramentas do pensamento, e assim descobrir o mundo que há em sua volta, seus semelhantes, seu espaço vivido, as formas simbólicas da vida, ai sim teremos uma nova globalização, a partir dos meios Técnico-Científicos-Informacionais bem utilizados em prol dos fins intrínsecos dos homens, veremos não só uma outra globalização, mas também uma outra humanidade. Mesmo com um sentimento de utopia, acredito nessa transformação social, justamente por que ela depende somente de cada indivíduo fazendo sua parte, conhecendo a si próprio.
Conclusão
Do ponto de vista do autor, globalização é, de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista, e para entendê-la é preciso levar em conta o estado das técnicas e o estado da política, que não podem ser estudadas separadamente. Sendo assim a globalização não é apenas a existência desse novo sistema de técnicas, é também o resultado de ações que asseguram a emergência de um mercado dito global, responsável pelo essencial dos processos políticos atualmente eficazes.
O processo que se inicia com a sofisticação das ciências e das técnicas, é sem dúvida um novo marco para história humana, assim temos um mundo unificado, a humanidade como um bloco revolucionário, pode ser o ápice desse processo. Abrindo as portas para uma nova compreensão mundo, temos em nossas mãos a chance de produzir uma outra globalização, está voltada diretamente para os fins intrínsecos dos seres humanos.
O livro em questão nos traz uma clara compreensão do que é a globalização, em suas diferentes formas e contextos, suas diferentes visões e perspectivas e também suas diferentes possibilidades. Nos traz a tona questões importantes, sobre qual o nosso papel nesse mundo, e o que estamos fazendo para torná-lo melhor. E como toda grande obra termina em aberto, não tem uma conclusão, pois o clico não está fechado, está aberto a novas possibilidades, aberto para que nós possamos escrever uma nova história, a partir do nosso presente, uma mutação filosófica, atribuindo um nosso sentido a existência de cada pessoa e também do planeta.
Autor: Thiago F. Milski
Referências
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10° ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. 174 pp.

CHAUI, Marilena. O que é ideologia. 15° ed. São Paulo: Brasiliense,1984. 125 pp.

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